Capa do Livro Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro

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Sobre o Livro

Este livro publicado pela editora Hagnos em março de 2014 apresenta as pioneiras evangélicas que se dedicaram de corpo e alma para a evangelização do Brasil. Elas enfrentaram a morte de filhos e esposos, conviveram com epidemias e inundações e sofreram com graves doenças; mas, sem perder o ânimo, evangelizaram, visitaram, pregaram, ensinaram, escreveram, compuseram letras e músicas, pesquisaram a nossa história e foram dedicadas esposas e mães que transmitiram aos filhos os ensinos do evangelho de Cristo.

O contexto da época com o reinado de D. Pedro II, a escravidão e os abolicionistas será enfocado, assim como o papel feminino e as primeiras vozes que se ergueram na educação e literatura. Porém, o mais edificante será conhecer melhor as bravas mulheres que se comprometeram integralmente na formação de cidadãos da pátria, para que o Brasil se tornasse um país melhor.

Ao ler as biografias das primeiras missionárias estrangeiras, como Sarah Kalley, Martha Watts, Carlota Kemper e Ana Bagby, como também ao conhecer as vidas das missionárias brasileiras enviadas ao sertão e aos indígenas, das esposas dos missionários pioneiros, das líderes femininas, das escritoras, das musicistas e poetisas, percebe-se com emoção que cada uma, à sua maneira, contribuiu para o desenvolvimento do cristianismo no Brasil.

Que esse livro aumente o conhecimento do leitor sobre o protestantismo brasileiro e o faça orgulhar-se de fazer parte do reino de Deus aqui na terra e comprometer-se com a divulgação do evangelho de Cristo.

Cartaz do Lançamentocartaz 1cartaz 2

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Fotos do Lançamento – Igreja Batista do Cambuí – 09/03/2014

 1. Apresentando o livroSAM_1913
2. Parte do auditórioSAM_1923SAM_1924
3. Agradecimento ao Juan Carlos Martinez, editor da Hagnos, por toda atenção e trabalho. SAM_1918
4. Entregando exemplares aos filhos Meirélen, Meison e Marlon, aos quais o livro foi dedicado. Pr. Elias Neves de Souza, ao fundo.

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5. Gratidão aos queridos amigos Julio e Marta, primeiros a chegarem ao lançamento.SAM_1898
6. Com o filhote Marlon e Márcia Matos, que com o esposo Sidney, foi responsável pelas vendas dos livros. A eles, minha gratidãoSAM_1959
7. A querida irmã Aracy que declarou: “Um livro desse não posso deixar de adquirir”SAM_1932
8. Basílio Daciu e Avani Sotello na degustação das bolachinhas (by Márcia Villani) e cupcakes (by Adelina Rios), a elas minha gratidão.SAM_1941
9. Autografando livros para as queridas irmãs Isabel e Clarinda FreitasSAM_1929
10. Na fila de autógrafos, os alunos queridos: Adelina, Rafael, Isabel e as amigas queridas: Itaci e Eda.SAM_1930
11. Com a minha querida amiga de longa data Eda Maiolino de SouzaSAM_1935
12. Minha irmã Raquel, minha amiga Adelina Rios e minha mãe querida Maria José SalvianoSAM_1931
13. Com o casal de amigos queridos: João Carlos e Nice ZapariniSAM_1936
14. Amigos queridos Marilza Barchiesi (que surpresa maravilhosa), Cleverson Reis e Angela BarchiesiSAM_1938
15. Com meus presentes especiais de Deus, os filhotes Meison, Meirélen e Marlon Salviano AlmeidaSAM_1949
16. Com os filhos e o esposo João Ubiratan Carvalho AlmeidaSAM_1951
17. Com os filhos, esposo e nora Deise Gomes AlmeidaSAM_1956
18. Com a irmã preferida Raquel Pereira Salviano Roverso.SAM_1957
19. A beleza da filhota Meirélen e da norinha Deise deixou o lançamento do livro mais bonitoSAM_1944

 

Resenha do Jornal Nosso Tempo

Jornal Nosso Tempo Vozes

 Propaganda no Jornal Batista

propaganda Jornal Batista

Artigo Correio Popular

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Campinas, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014, A14.

Por: Marcos Inhauser – teólogo, pastor da Igreja da Irmandade e educador corporativo

Vozes femininas

Ela se especializou em pesquisar e trazer à luz a participação das mulheres na vida da igreja. Ela já pesquisou e publicou Uma voz calada pela inquisição, Uma voz feminina na Reforma e agora lança Vozes femininas no início do Protestantismo Brasileiro. Em todos estes trabalhos, fruto de anos de dedicação, ela apresenta uma faceta proposital ou inconscientemente esquecida pelos historiadores: o papel da mulher. Talvez isto se explique pelo fato de que, até bem pouco tempo, a história da igreja era contada por homens. Felizmente há mulheres dedicadas, estudiosas e com habilidades acadêmicas para “ressuscitar a estas mulheres”.

A Rute Salviano Almeida é casada, tem três filhos, é membro da Igreja Batista do Cambuí, em Campinas. Foi professora da Faculdade Teológica Batista de Campinas por quase 20 anos. É licenciada em Estudos Sociais, bacharel em Teologia (especialização em Educação Cristã), mestre em Teologia (concentração em História Eclesiástica) e pós-graduada em História do Cristianismo pela Unimpe. Foi redatora das revistas Celebrando o centenário e Celebrando o passado, desafiados pelo futuro. Tem poesias publicadas em coletâneas da Editora Litteris.

O livro Vozes femininas no início do Protestantismo Brasileiro apresenta as pioneiras evangélicas que se dedicaram de corpo e alma para a evangelização do Brasil. Elas enfrentaram a morte de filhos e esposos, conviveram com epidemias e inundações e sofreram com graves doenças. Sem perder o ânimo, evangelizaram, visitaram, pregaram, ensinaram, escreveram, compuseram letras e músicas, pesquisaram a nossa história e foram dedicadas esposas e mães que transmitiram aos filhos os ensinos do evangelho.

O contexto é o da época do reinado de D. Pedro II, a escravidão e os abolicionistas que são enfocados, assim como o papel feminino e as primeiras vozes que se ergueram na educação e literatura.

O mais edificante é conhecer melhor as bravas mulheres que se comprometeram integralmente na formação de cidadãos da pátria, para que o Brasil se tornasse um País melhor. Ao ler as biografias das primeiras missionárias estrangeiras, como Sarah Kalley, Martha Watts, Carlota Kemper e Ana Bagby, como também ao conhecer as vidas das missionárias brasileiras enviadas ao sertão e aos indígenas, das esposas dos missionários pioneiros, das líderes femininas, das escritoras, das musicistas e poetisas, percebe-se com emoção que cada uma, à sua maneira, contribuiu para o desenvolvimento do cristianismo no Brasil.

Mais que aumentar o conhecimento sobre o protestantismo brasileiro, esse livro leva o cristão brasileiro a se orgulhar de mulheres que aqui viveram e que fizeram parte do reino de Deus e desafia ao comprometimento com a divulgação do evangelho.

Quando se constata que 67% das membresias e frequência da igrejas são compostas por mulheres, a investigação e produção da Professora Rute é de suma importância para a valorização da mulher quem, na história da Igreja, sempre foi presença constante e majoritária, injustificavelmente esquecida pelos historiadores machistas.

Uma voz feminina resgatando as vozes femininas da história eclesiástica.

Epígrafe

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Betty Antunes de Oliveira com sua filha primogênita Nancy

Daí à obra de Marta um pouco de Maria 

Daí à obra de Marta um pouco de Maria
Daí um beijo de sol ao descuidado arbusto;
Vereis neste florir o trono erecto e adusto,
E mais gosto achareis naquela e mais valia.

A doce mãe não perde o seu papel augusto,
Nem o lar conjugal a perfeita harmonia.
Viverão dois onde um até aqui vivia,
E o trabalho haverá menos difícil custo.

Urge a vida encarar sem a mole apatia,
Ó mulher! Urge pôr no gracioso busto
Sob o tépido seio, um coração robusto.

Nem erma escuridão, nem mal aceso dia.
Basta um jorro de sol ao descuidado arbusto,
Basta à obra de Marta um pouco de Maria.

Machado de Assis (1839-1908)
Bernardes, Maria Thereza Caiuby Crescenti. Mulheres de ontem?
Rio de Janeiro – século XIX. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989, p. 27.

 

 

Prefácio

Primeiro, os fatos.
Mas ainda não se tem história. Faltam os documentos.
É por isto que as mulheres não fazem história. Ou melhor: é por isto que as mulheres não aparecem nos livros de história. Os documentos (por ser palavra masculina?) as escondem.
Quando publiquei “As cruzadas inacabadas”, em 1980, recebi uma resenha. Era o professor Duncan Alexander Reily (1924-2004), de quem me tornaria parceiro. Reily não me poupou: escreveu que a história que escrevi da América Latina era uma história de homens, ausentes as mulheres.
Eu poderia explicar: os documentos não falavam dela. Mas eu preferi dar razão a Reily. Eu tinha que buscar esses documentos.
É precisamente isto que Rute Salviano faz neste livro. E isto faz do seu trabalho um livro de história. Ela vai às fontes (palavra feminina).
VOZES FEMININAS NO INÍCIO DO PROTESTANTISMO BRASILEIRO é também uma crônica da história do Brasil, e não só do protestantismo, e não só do início, onde estão o interesse e a militância da autora. Trata-se de uma crônica necessariamente apaixonada, porque as mulheres não conquistaram ainda o lugar de igualdade que lhes é próprio. Ainda há em alguns círculos religiosos (católicos e evangélicos, para nos atermos aos muros cristãos) muros que impedem o acesso das mulheres ao sacerdócio pleno.
Sobre isto as leitoras poderão comentar melhor.
Quanto a mim, fixo-me na ternura dos relatos sobre as alegrias e as dores de Sarah Kalley, Anna Bagby e Ester Silva Dias. Minhas escolhas têm suas razões.
Quando eu via os autores dos hinos que, desde cedo, cantei, eu me deparei primeiro com as iniciais S.P.K, mais tarde desvendadas nos hinários maiores como Sarah Pulton Kalley. Ler sua biografia foi uma oportunidade de rever a sua notável obra, que vai além de sua lavra poética.
Minha admiração por Anna Bagby alcançou seu clímax, lendo uma de suas cartas, que Rute Salviano nos traz, na qual relata a dor de perder um dos seus filhos, ela que perdeu tantos. Que ternura. Que fé.
Por fim, fiquei pensando onde estava eu quando morreu dona Ester Silva Dias, minha professora de matemática, se eu estava no Rio de Janeiro. Não fui ao seu sepultamento. Não fiquei sabendo de sua morte e não pude homenagear aquela mulher tão importante na minha vida. A saudade cresceu, Rute.
VOZES FEMININAS é um livro sobre mulheres, feita por uma mulher. Só uma mulher poderia escrevê-lo. Na verdade, só você, Rute, poderia escrevê-lo.
israelbelo_mIsrael Belo de Azevedo
Possui graduação em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, graduação em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, especialização em Historia pela Universidade Federal Fluminense, mestrado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho. Escritor e pastor da Igreja Batista em Itacuruçá – RJ.

Introdução

 

Os livros sobre o protestantismo brasileiro, em sua maioria, trazem poucas

referências às mulheres. Em razão disso, esta obra propõe-se a apresentar
a contribuição das pioneiras nas denominações evangélicas.

O historiador da Igreja Presbiteriana no Brasil, Alderi de Souza Matos,
afirma que “uma das maneiras de valorizarmos as mulheres e defendermos
a sua dignidade é tirá-las do anonimato, do esquecimento”. É o que este
livro pretende fazer.

A história da mulher brasileira é caracterizada pelo patriarcalismo que,
endossado pela religião cristã ocidental, exigia que as mulheres permanecessem
caladas. A primeira porta aberta foi a educação e, com acesso à escola,
as meninas começaram a aprender as primeiras letras e se destacaram em
seu interesse pelo saber.

Como isso ocorreu, e qual foi a contribuição das mulheres protestantes,
estrangeiras e brasileiras, que evangelizaram e civilizaram, é o objetivo principal
deste livro.

A historiadora Eula Kennedy Long intitulou o penúltimo capítulo de seu
livro, Do meu velho baú metodista, de retalhos, recortes e retratos, e afirmou
que com pequenos retalhos desejava apresentar um quadro do metodismo;
estava consciente, porém, de que faltavam muitos pedaços.

O sentimento é o mesmo em relação a este trabalho, que contém somente
recortes de algumas vidas preciosas, mas queira Deus que esse
pouco constitua uma boa amostra do grande papel desempenhado pelas
cristãs evangélicas.

A presente obra não se originou de documentos e fotos antigas guardadas
em um baú, como o da historiadora Eula; nem de um baú recebido como
herança de antepassados, aberto por Betty Antunes de Oliveira, onde se
descobriu material precioso. Porém, a autora colecionou, durante quase vinte
anos de ensino na Faculdade Teológica Batista de Campinas, em gavetas ou
pastas, material sobre a história dos batistas, a história do cristianismo, as
religiões mundiais e os movimentos religiosos. Esse material recolhido foi
importante para a elaboração desta obra, mas forneceu naturalmente mais
informações sobre mulheres da denominação batista.

Para suprir a história das outras denominações, foi realizada pesquisa em
bibliotecas com acervos sobre o protestantismo brasileiro e foram adquiridos,
em sebos, inúmeros livros antigos e alguns já esgotados. Muitas horas
foram investidas na leitura de jornais evangélicos, revistas e livros.

O período enfocado é o de meados do século XIX a meados do século
XX, quando ocorreram a entrada e a implantação das primeiras igrejas
protestantes no Brasil. A presença anterior de protestantes no Brasil colônia é
considerada movimento pontual e passageiro, porque a implantação efetiva
do protestantismo só se concretizou no século XIX.

Dentro do movimento protestante, foi destacado apenas o protestantismo
de missão, formado principalmente por congregacionais, presbiterianos, metodistas
e batistas. O protestantismo de imigração, que teve início quando protestantes
de outros países chegaram como colonizadores, embora de grande
importância como fator de evangelização e influência para a vinda dos missionários,
não será aprofundado nesta obra.

Em relação às mulheres enfocadas, entende-se que o universo de
mulheres estrangeiras e brasileiras que contribuíram para a evangelização
no Brasil é tão grande quanto é pequeno o registro sobre esse maravilhoso
trabalho. Portanto, apenas 27 delas foram apresentadas com um pouco mais
de detalhes neste livro.

O historiador congregacional Douglas Nassif Cardoso afirma: “Ao
empreendermos uma aproximação da vida e da obra de Robert Reid Kalley,
no exame dos documentos e textos oficiais de suas igrejas, percebemos um
profundo silêncio sobre a ação das mulheres”. De igual modo, esta pesquisa
constatou que as esposas dos líderes protestantes, e outras colaboradoras
na evangelização, não foram destacadas da mesma forma que o foram os missionários
pioneiros e os primeiros pastores brasileiros. Isso, contudo, não significa
que não realizaram excelentes ministérios.

Reconhece-se, com gratidão, o inestimável valor das missionárias estrangeiras
na nossa história evangélica. Como foram mais lembradas por serem
esposas dos pastores pioneiros, ou por seu brilho próprio como educadoras
e líderes de uniões femininas, este livro priorizará as mulheres brasileiras,
menos conhecidas.

Cada personagem enfocada pode ser considerada nota dez, por seus múltiplos
talentos. As missionárias eram professoras, pregadoras e musicistas.
As musicistas eram pesquisadoras e evangelistas. As evangelistas eram humanitárias
e conselheiras. Assim são as mulheres, múltiplas em sua própria
natureza abnegada e desprendida.

Este livro tem como título Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro
e, na fidelidade ao tema, essas vozes são ouvidas nos textos da época e
nas citações, que foram reproduzidas fielmente a partir de suas obras ou de
outras fontes que enalteceram seus papéis. Vozes femininas estrangeiras também são
citadas, não apenas mulheres protestantes, mas também viajantes que vieram ao país
auxiliando nas missões do marido e escreveram sobre o Brasil e a mulher brasileira.

No capítulo 1, para que o leitor tenha uma visão geral da época estudada,
é apresentada a cidade do Rio de Janeiro como um panorama do Brasil, na
segunda metade do século XIX. Às informações sobre a capital são acrescentados
dados da sociedade brasileira e sua mistura de raças. A escravidão, as
vozes humanitárias e abolicionistas também são destacadas.

No capítulo 2, o leitor ouvirá as vozes imperiais de dom Pedro I, dom Pedro
II e da princesa Isabel. As pessoas, acima dos fatos, são contempladas. Como
exemplo, dom Pedro II é apresentado mais como erudito, esposo e pai que como
imperador; e a princesa Isabel, a voz feminina que ousou erguer-se em prol dos
escravos, também é destacada mais por sua humanidade que por sua política.

No capítulo 3, a religiosidade brasileira é visualizada, com todo o seu sincretismo,
superstição, grandes festas, veneração de santos e sacerdotes. Os
protestantes, ou “acatólicos”, chamados de “hereges”, “bodes” e “bíblias”, alvos
de discriminações e proibições, também são abordados.

No capítulo 4, o papel feminino pode ser conhecido, com suas vozes
submissas, controladas e trêmulas. Como viviam as mulheres? O que lhes era
permitido? Quais as dificuldades que enfrentavam? Como deveriam agir para
serem consideradas boas filhas, esposas e mães? Quais mulheres conseguiram
sair do anonimato e de que maneira elas o fizeram? As respostas a estes
questionamentos formam o conteúdo do capítulo.

No capítulo 5, as heroínas estrangeiras, mulheres que deixaram seu país e
sua família para apresentarem a mensagem do evangelho de Cristo ao povo
brasileiro, são enfocadas. Elas se comprometeram com a educação e a evangelização,
em um processo completo de educar a mente e a alma.

Os capítulos 6 a 10 são dedicados às primeiras evangélicas brasileiras
que fizeram diferença com seu trabalho incessante na causa do Mestre. Elas
enfrentaram a morte de filhos e esposo, conviveram com epidemias e inundações,
e sofreram com graves doenças; mas, sem perder o ânimo, evangelizaram,
visitaram, pregaram, ensinaram, escreveram, compuseram letras e
músicas, pesquisaram a nossa história e foram dedicadas esposas e mães que
transmitiram aos filhos os ensinos do evangelho de Cristo. Todas elas, cada
uma à sua maneira, comprometeram-se integralmente na formação de cidadãos
da pátria, para que o Brasil se tornasse um país melhor.

Ao final, foi feita uma homenagem às vozes anônimas, mulheres que não
escreveram livros, não foram diretoras de colégios, nem esposas de pastores;
contudo, como mães abençoadoras receberam a palavra de Deus e a ensinaram
aos parentes e filhos, deixando para a posteridade um legado espiritual
maravilhoso. Representando todas aquelas que aceitaram a mensagem do
evangelho e as ensinaram aos parentes e filhos está Maria Gomes de Lima,
mãe de pastores, músicos e mulheres dedicadas ao evangelho. Sua história
exemplifica perfeitamente milhares de outras vidas, que como ela foram farol
para suas famílias.

Como considerações finais, elencam-se reflexões sobre a religiosidade
brasileira da época tratada e da época atual. O que mudou? O que precisa
mudar? Quais lições o passado nos oferece e que servem de alerta aos cristãos
evangélicos de hoje? Por que as mulheres, apesar dos grandes serviços
prestados, não são dignas de menção, de destaque ou, pelo menos, de serem
contadas entre todos os que contribuíram para o bem-estar espiritual e moral
do Brasil? Por que elas não têm plena liberdade para exercerem seus dons
espirituais nas igrejas? Será que vale a pena refletir sobre tudo isso?

Caro leitor, não estranhe a grafia dos textos antigos e de algumas citações,
pois foram escritos em um português arcaico e, caso não entendam alguma
palavra específica do vocabulário daquele tempo, busque seu significado no
pequeno glossário ao final do livro.

Que o querido leitor enriqueça o seu conhecimento sobre a história do
início do protestantismo no Brasil e sobre a participação feminina nesse difícil
começo e, principalmente, que extraia desta obra modelos dignos de serem
admirados e seguidos.

Não restam dúvidas de que à época enfocada existiram mulheres compassivas,
inteligentes, abnegadas, desprendidas e servas do Senhor Jesus
Cristo. Elas continuam a existir e a fazer diferença também hoje em dia. E
queira Deus que nunca deixem de fazer parte da linda história evangélica
brasileira!

Sumário

  • Figuras
  • Textos da época
  • Prefácio
  • Palavras introdutórias
  • Vozes que informam sobre a capital e o povo brasileiro: o contraste entre a beleza do Rio de Janeiro e o mal da escravidão
    • Introdução
    • A primeira impressão do Rio de Janeiro
    • Rio de Janeiro: cidade de contrastes
    • As cariocas e a moda
    • Vozes aborígines: os botocudos
    • As mulheres da tribo dos botocudos
    • Vozes oprimidas: a raça negra
      • O tráfico
      • Os castigos
      • As doenças
      • O comércio
    • Vozes femininas escravizadas
    • Vozes intercessoras e humanitárias
    • Vozes abolicionistas
    • Conclusão
  • Vozes imperiais: os imperadores brasileiros e a princesa regente
    • Introdução
    • Dom Pedro I: o proclamador da independência
    • Dom Pedro II: o consolidador da monarquia
      • O menino Pedro
      • Dom Pedro II: o imperador culto e estudioso
      • Dom Pedro II: bom esposo e pai
      • Dom Pedro II: final do governo, exílio e morte
    • Princesa Isabel, a regente abolicionista: uma voz feminina na política
      • Princesa Isabel: nascimento e educação
      • Princesa Isabel: casamento e filhos
      • Princesa Isabel: humanidade e religiosidade
      • Princesa Isabel: em suas regências a trajetória da abolição da escravidão
      • Princesa Isabel: exílio e morte
    • Conclusão
  • Vozes religiosas: os católicos e os “intrusos” protestantes
    • Introdução
    • O catolicismo brasileiro no Império
    • A religiosidade popular
      • Procissões e festas
      • As superstições
      • A veneração aos santos
      • Os sacerdotes
    • Vozes protestantes: os intrusos acatólicos
      • Protestantes ou evangélicos?
      • A introdução do protestantismo no Brasil
      • A distribuição de Bíblias
      • Perseguições e proibições
      • O protestantismo de missão: congregacionais, presbiterianos, metodistas e batistas
    • As mulheres no início das igrejas protestantes: vozes caladas
    • Conclusão
  • Vozes caladas e vozes que se fizeram ouvir: o papel feminino, as primeiras escritoras e a voz influente de Sarah Kalley
    • Introdução
    • Vozes submissas: esposas e mães
    • Vozes controladas: filhas
    • Vozes em busca da educação
    • Versão masculina sobre o papel feminino
    • Vozes impressas entre elas: jornais para senhoras
    • Vozes literárias: primeiras escritoras e poetisas brasileiras
    • A devoção feminina
    • Sarah Kalley, a inglesa congregacional: uma voz talentosa
      • Sarah: infância e educação
      • Sarah: casamento e chegada ao Brasil
      • Sarah: educadora competente
      • Sarah: companheira dedicada
      • Sarah: líder dos colportores
      • Sarah: compositora e editora do hinário Salmos e hinos
      • Sarah: múltiplas atividades
      • Sarah: e sua obra adotadas nas escolas: A alegria da casa
      • Sarah: partida do Brasil, viuvez, fundação da Help for Brazil Mission e últimos anos
    • Conclusão
  • Vozes educadoras: as missionárias norte-americanas
    • Introdução
    • Martha Watts, a missionária metodista: semeadora de escolas
      • Martha: nomeação e chegada em Piracicaba
      • Martha e o Colégio Piracicabano
      • Martha: educando e evangelizando
      • Martha e outros colégios: Americano de Petrópolis, Mineiro de Juiz de Fora e Isabela Hendrix em Belo Horizonte
      • Falecimento dos irmãos Moraes e de Martha: demonstrações de admiração mútua
    • Carlota Kemper, a missionária presbiteriana: mestra humanitária e capacitada
      • Carlota: sua instrução
      • Carlota: alegria, bonança e crise na juventude
      • Carlota e seu ministério missionário
      • Carlota e a epidemia de febre amarela
      • Carlota: administradora, evangelista e produtora de material didático
      • Carlota: Professora capacitada e amiga de seus alunos
      • Carlota e seu colégio
      • Carlota: humanitária cristã
      • Carlota: seus últimos anos
    • Ana Bagby, a missionária batista: esposa, mãe dedicada, evangelista e educadora
      • Ana: infância, namoro e chamada para o campo missionário
      • Ana: casamento, partida e chegada ao Brasil
      • Ana e o início do trabalho na Bahia
      • Ana: enfrentando a morte dos filhos
      • Ana e seu colégio em São Paulo
      • Ana e sua igreja, outras atividades do casal Bagby e seu falecimento
  • Vozes intrépidas: as pioneiras em diversos ramos do protestantismo
    • Introdução
    • Archimínia Barreto: pioneira na literatura apologética protestante e primeira professora pública da Bahia
      • Archimínia: mulher destemida e apologista intrépida
      • Archimínia e seu livro Mitologia dupla
      • Archíminia: seu falecimento e seu valor para a posteridade
    • Dra. Maria Amélia Cavalcanti de Albuquerque: pioneira da medicina no Nordeste
      • Amélia doutora e seu breve casamento
      • Amélia doutora como mãe de seus doentinhos
      • Amélia doutora: sua conversão e seu falecimento
    • Anna Gonzaga, a metodista benemérita: doadora de seus bens materiais
      • Anna e sua conversão
      • Anna Gonzaga e Layonna Glenn
      • Anna: seu falecimento e seu orfanato
    • Wilhelmine Lenz César Mota: esposa do missionário presbiteriano pioneiro em Portugal
      • Wilhelmine: a filha do rev. Belmiro César
      • Wilhelmine, esposo e filhos em Portugal
      • Wilhelmine e o Colégio Luso-brasileiro: professora e discipuladora
      • Wilhelmine: outras atividades e falecimento
    • Eunice Sousa Gabbi Weaver: uma vida dedicada aos portadores do mal de Hansen e às suas famílias
      • Eunice: família, estudos e primeiros contatos com o mal de Hansen
      • Eunice: viagens e organização de campanhas
      • Eunice: reconhecimento de seu trabalho e falecimento
    • Herodias Neves Cavalcanti: pregadora, promotora de missões e missionária emérita dos batistas brasileiros
      • Herodias: batismo e vocação missionária
      • Herodias em Portugal
      • Herodias: outras atividades e promoção missionária até o final da vida
    • Conclusão
  • Vozes companheiras: as esposas dos pastores pioneiros e as líderes pioneiras de uniões femininas
    • Introdução
    • Cynthia Kidder: uma voz que se apagou prematuramente
    • Jennie Kennedy: uma voz auxiliadora
    • Filomena Araújo dos Santos: uma voz no leito de morte
    • Nefália de Cerqueira Leite: uma voz tolerante e abnegada
    • Cecília Rodrigues Siqueira: a condecorada líder das mulheres presbiterianas
      • Cecília: estudos e ensino
      • Cecília: início da vida conjugal e partida para Presidente Soares
      • Cecília: a sábia esposa de pastor e preocupada cidadã jequitibaense
      • Cecília: atuante membro da igreja e líder do trabalho feminino
      • Cecília: a mãe abnegada
      • Cecília: a educadora por excelência e seu falecimento no dia do professor
    • Otília de Oliveira Chaves: pioneira na representação das metodistas brasileiras no exterior
      • Otília: infância e estudos
      • Otília e o colégio protestante
      • Otília: casamento e início de ministério como esposa de pastor
      • Otília: enfrentando a peste bubônica
      • Otília na Emory University
      • Otília e a Faculdade de Teologia do Granbery
      • Otília e a emancipação da igreja metodista em 1930
      • Otília: o ministério em Porto Alegre e a coordenação da assistência aos desabrigados
      • Otília: representações internacionais, outras atividades e falecimento
    • Esther Silva Dias: a pioneira brasileira na liderança da União Geral de Senhoras Batistas
      • Esther: infância e conversão
      • Esther e a União Geral de Senhoras Batistas
      • Esther: líder internacional da União Feminina Missionária Batista
      • Esther: cuidando da família e partindo para a eternidade
    • Conclusão
  • Vozes no sertão: pioneiras batistas na evangelização dos indígenas e sertanejos
    • Introdução
    • Noêmia Campêlo: a mártir da evangelização aos indígenas
      • Noêmia: infância e estudos
      • Zacarias Campêlo: o esposo da heroína de Craonópolis
      • Noêmia na tribo dos Craôs
      • Noêmia e o início do trabalho em Craonópolis
      • Noêmia: seus problemas de saúde e nascimento de seus filhos
      • Noêmia: seu testemunho e falecimento
    • Beatriz Rocha Colares: mãe de órfãos indígenas
      • Beatriz: casamento, partida para o campo missionário e primeiros contatos com os craôs
      • Beatriz: seus filhos e os indiozinhos órfãos
      • Beatriz: a escola-orfanato e seu falecimento
    • Marcolina Magalhães: bandeirante na evangelização do sertão nordestino
      • Marcolina: nascimento, infância e estudos
      • Marcolina: enviada como missionária ao vale do Tocantins
      • Marcolina e suas outras atividades
      • Marcolina: experiências marcantes
      • Marcolina e seus pés cansados
      • Marcolina: última morada e falecimento
    • Beatriz Rodrigues da Silva: sessenta anos no campo missionário
      • Beatriz: nomeação, partida e chegada ao campo missionário
      • Beatriz: as primeiras dificuldades
      • Beatriz: experiências marcantes
      • Beatriz: crescimento do colégio, aposentadoria e falecimento
    • Conclusão
  • Vozes visionárias do passado: pioneiras na pesquisa histórica
    • Introdução
    • Henriqueta Rosa Fernandes Braga: pioneira na pesquisa da música evangélica brasileira
      • Henriqueta: filha de família ilustre e comprometida com sua fé
      • Henriqueta como regente
      • Henriqueta: musicista e professora
      • Henriqueta e o hinário Salmos e hinos
      • Henriqueta e suas obras
      • Henriqueta: falecimento e herança
    • Eula Kennedy Long: historiadora dos metodistas no Brasil
      • Eula: nascimento em uma família missionária
      • Eula: e as epidemias do Rio de Janeiro
      • Eula: diversões para os filhos de missionários
      • Eula: mudanças, estudos e casamento
      • Eula: cointrodutora da primeira comemoração do Dia das Mães no Brasil
      • Eula: atuação nas sociedades de senhoras e obras literárias
      • Eula e sua discordância em relação ao marco inicial do metodismo no Brasil
      • Eula: mudança para os Estados Unidos e falecimento
    • Betty Antunes de Oliveira: pesquisadora do início da história dos batistas no Brasil
      • Betty: seus antecedentes
      • Betty: esposa, mãe e administradora do lar
      • Betty: múltiplas atividades
      • Betty: sua formação em música e em outras áreas
      • Betty: suas pesquisas e obras
      • Falecimento do esposo: o pr. Antunes morreu orando
      • Betty e o marco inicial dos batistas brasileiros
    • Conclusão
  • Vozes visionárias do futuro: heroínas da espiritualidade
    • Introdução
    • Stela Câmara Dubois: educadora, musicista, escritora e poetisa
      • Stela: infância e primeiros estudos
      • Stela: casamento e chegada a Jaguaquara
      • Stela como esposa de pastor
      • Stela e o Colégio Taylor-Egídio
      • Stela e a pesquisa sobre o folclore nordestino
      • Stela e suas composições musicais
      • Stela como escritora e tradutora
      • A criação do distrito Stela Dubois
    • Stela Câmara Dubois e Rosalee Mills Appleby: uma parceria espiritual
      • Rosalee e seu edificante ministério
      • Rosalee e Stela: irmanadas na renovação espiritual
    • Stela: espiritual e humanitária
    • Uma voz que falou sobre o céu: a visão de Stela
    • Stela: definitivamente nos céus
    • Conclusão
  • Homenagem às vozes anônimas
  • Maria Gomes de Lima, mãe de pastores e cantores
  • Considerações finais
  • Glossário
  • Referências

 

Trechos Impactantes

 

Otília de Oliveira Chaves: enfrentando a peste bubônica

família de Otília

O rev. Derli contraiu a peste bubônica ao ser contaminado, ou em suas visitas às famílias da igreja, ou no porão da casa que acabara de alugar, onde encontrara um rato morto cheio de pulgas.

Otília relatou que, ao voltarem de uma visita pastoral, ele sentiu forte dor na perna e começou a coxear, chegando em casa ardendo de febre. Já sem sentidos, foi colocado no leito, com febre e delírios crescentes. Com muita dificuldade, conseguiram um médico que o examinasse, o qual diagnosticou a bubônica e ordenou que o levassem imediatamente ao isolamento no sanatório da cidade.

A família precisou deixar a casa para que fosse desinfectada. Otília se desesperou por não poder visitar o marido; só sabia que ele ainda não tinha morrido. Após muitas súplicas, conseguiu a permissão do médico para vê-lo, com a condição de não tocar em nada, muito menos no doente. Diante do marido enfermo, a esposa, porém, não se conteve, e o beijou sofregamente.

As igrejas evangélicas estavam em oração, um padre pediu para orar pelo reverendo e a congregação local colocou-se de joelhos implorando a Deus pela vida do jovem pastor. Otília, apreensiva, levantava a filhinha para o alto e clamava: “Senhor tem piedade de nós, ela precisa do pai; cura-o, Pai santo”.

Otília persistiu nessa luta, vendo-o entre a vida e a morte, e permaneceu a seu lado todo momento que lhe era permitido, até que, ao fim do sexto dia, os médicos perderam a esperança de salvá-lo. Um dos assistentes disse a Otília que seu esposo estava desenganado, pois apresentava um grande tumor no pé, local da picada da pulga. Os médicos temiam abrir o tumor devido ao pus virulento, que podia contaminar todo o hospital.

Diante disso, Otília encheu-se de coragem e disposição e disse ao rapaz: – Doutor, sou farmacêutica e entendo bastante de enfermagem; se o senhor operar o tumor, eu me encarrego dos curativos. Vendo a disposição da esposa, o médico concordou e rasgou o tumor, e, largando o bisturi, saiu, deixando para a jovem esposa todo o trabalho de desinfecção da ferida e dos curativos.

No dia seguinte, a febre começou a baixar e continuou baixando. Recuperado, o rev. Derli falou à esposa que o Senhor Jesus lhe aparecera e lhe dissera que não seria daquela vez que ele morreria. Otília relatou:

Foi dura a experiência, mas gloriosa. Eu tinha a certeza de que o Senhor não faltaria, mas não deixo de confessar que há momentos em que a gente tem a impressão de estar só. No entanto, na hora precisa, ouve-se a sua voz mansa e suave: “Não vos tenho dito que, se crerdes, vereis a glória de Deus?” Foi o que aconteceu comigo. Aleluia!

Após 27 dias de internação, o pastor voltou para casa, enfraquecido e desidratado. Um mês depois já estava pregando.

 

Referencia: Página 367/368

 

 

 

Stela Dubois: Uma voz que falou sobre o céu

Stela

Uma poesia sua, em especial, demonstrou a aprovação do seu mestre amado, Jesus Cristo, para com sua querida discípula e serva. Entre seus maravilhosos poemas, encontra-se um em que a poetisa misturou prosa e poesia e relatou sobre os céus, quando avistou a Cidade Santa.

Para que muitos não ficassem chocados e impressionados com o relato, na época em que se deu o fato, Stela escreveu que O retrato da vida e o retrato da morte era a transcrição de um sonho. Mas muitas vezes contou que realmente esteve nos céus.

Em 1963, Stela passou por problemas físicos e precisou passar por uma intervenção cirúrgica. No final da operação, sofreu uma parada cardíaca. Os cirurgiões que a operavam atestaram sua morte clínica. Ela, porém, retornou e, alguns meses depois, fez o seguinte relato à sua filha Stelinha:

– Stelinha, querida, eu avistei a Cidade Santa!

Stelinha, então, disse:

-Mãe, conte-me tudo, direitinho!

E então, ela passou a relatar o que lhe havia acontecido:

– De repente, me vi suspensa por debaixo dos braços, e levantada por dois anjos, um de cada lado. Eu não os via, mas estava firmemente segura por eles. Num piscar de olhos, fui transportada para os céus, para as regiões estratosféricas, e os meus pulmões se encheram de tanto ar, de um ar tão puro, que não é possível descrever, tão intenso e pleno era o meu respirar.

– E então eu vi que tudo era Verdade!

– Tudo o que está escrito é Verdade! Todas as promessas do Pai são verdadeiras!

– Os céus existem realmente e eu vi a Cidade Santa!

– E fui com os dois anjos, eles me conduzindo de uma forma segura e precisa, meus pés se moviam, mas eu não podia vê-los, ao mesmo tempo, eu tinha a sensação de que voava, a velocidade era descomunal, o clima era excelente, delicioso, a atmosfera levíssima, e o brilho, a luz, as cores… ah, as cores eram lindas, eram cores especiais não avistadas dentre as do arco-íris. E os anjos me conduzindo, porém, eu não podia vê-los, apenas senti-los, até que cheguei à Cidade Santa.

– Sim, toda ela esplendorosa e luminosa em simples palavras. É como está descrito em algumas partes da Bíblia para o nosso pequeno entendimento, mas muito mais impressionante do que qualquer um de nós poderia relatar. Toda de pedras preciosas, esplêndida, grandiosa, reluzente! Não há palavras que possam descrevê-la.

– Durante o percurso a minha alegria era imensa, meu espírito exultava, e em júbilo meu coração gritava: Vou ver o Meu Senhor!

– Quando toquei o meu pé no patamar, no pórtico de entrada que levava ao interior da Cidade Santa, escada feita das mais maravilhosas pérolas, o Meu Senhor me disse:

– Minha serva! Volta, pois não é chegado o teu momento! O teu companheiro ainda precisa de ti!

– Vi-me, então, sendo trazida de volta a terra. Mas eu não queria voltar. O meu espírito ansiava o “alto”. Suspendendo a cabeça, foi difícil retornar ao corpo físico. Eu chorava. Oh, terra de dores e calamidades. Eu havia experimentado as elevadas paragens celestiais! E ao voltar, vi, em espírito, o meu filho René, em prantos, debruçado sobre o meu corpo na mesa cirúrgica. Vi o meu esposo Dubois com o amigo, Padre Palmeiras, na varanda do hospital em espírito de oração. E foi-me mostrado Dubois em desespero futuro, clamando:

– Meu Deus, a Stela não! Não ainda! Eu não estou preparado!

 

Tudo isso relatou quando a filha lhe indagou se havia sido um sonho ou realidade. Stelinha ainda lhe perguntou se na hora da morte a mãe se sentiu sem fôlego. Stela respondeu: – A respiração tornou-se tão ampla como se dez pulmões eu tivesse!

Após a cirurgia, Stela teve um restabelecimento imediato. A diabete que a molestava, pois era dependente de insulina, desapareceu. As palpitações e taquicardias noturnas também. Dias mais tarde, em um relato bem vívido, ela escreveu a experiência em prosa e verso.

  1. Referencia: p. 500-501

 

 

Eunice Weaver: organização de campanhas

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Em 1935, com muita coragem, Eunice conseguiu convencer o presidente Getúlio Vargas a ajudar oficialmente a causa, e ele lhe prometeu dar o dobro do que ela conseguisse junto à sociedade civil. A classe política se esquivava do assunto, pois acreditavam que a assistência aos leprosos não daria frutos políticos.

Após esse acordo, Eunice passou a viajar por todo o Brasil, lançando a campanha da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra. Ela percorreu mais de 146 cidades.

Uma das passagens mais interessantes durante a construção dos educandários ocorreu no Amazonas. Eunice estava no canteiro de obras da futura instituição que iria abrigar os filhos dos hansenianos daquela região quando, de repente, um bando de jagunços apareceu e tentou impedir a obra, sob a alegação que eles não queriam um leprosário no local, pois na região não havia lepra.

Eunice sugeriu ao líder dos jagunços que subissem o rio e, em poucas horas, ela lhe mostraria algum leproso; caso contrário, não construiria o educandário. Os jagunços assim fizeram e, após várias horas percorrendo o referido rio, não encontraram nenhum leproso. Arrogantemente satisfeitos porque conseguiriam impedir a construção do leprosário, resolveram dar a questão por encerrada.

Entretanto, em determinado momento, Eunice, vendo uma choupana, disse: – Pare, aqui tem lepra! Após descerem do barco verificaram que dentro da choupana havia mais de 30 leprosos. O líder dos jagunços, atônito com o ocorrido, abandonou suas funções e passou a ajudar na construção do educandário, tornando-se o primeiro coordenador do Educandário de Manaus.

 

Marcolina Magalhães e seus pés cansados

Marcolina

Quão formosos foram
Esses benditos pés que levaram o evangelho
Ao abrasante e árido sertão.
Mesmo inchados, doídos, judiados
Prosseguiram sem parar
Para anunciar, em Cristo, a salvação!832

Assim como Noêmia Campêlo, que sempre teve a saúde frágil, a jovem
Marcolina sofria de constantes dores nos pés. Certa vez, quando cuidava
de meninas no internato batista, após horas de visitas evangelísticas, chegou
chorando de tanto que os pés lhe doíam. Dona Elizabeth, então, aqueceu
água, banhou-lhe os pés e observou:

– Como pode você pensar em fazer trabalho missionário, Marcolina,
se não agüenta caminhar algumas horas sem chorar por causa
dos pés?

Não sei, D. Essie, mas de uma coisa tenho certeza: o Senhor me chamou
para a sua obra e por isso confio que ele providenciará tudo o
que for preciso – respondeu Marcolina.

No início de seu trabalho, ela escreveu uma carta para o secretário executivo
da Junta de Missões Nacionais, Manoel Avelino de Souza, na qual
relatava essa dificuldade.

Carta da missionária Marcolina Magalhães a Manoel Avelino de Souza
Porto Franco, 30-11-1932
Prezado irmão Avelino:
Saudações no Senhor.
Venho scientificá-lo que sigo no dia 8 próximo futuro para Carolina e de lá seguirei
para a aldeia afim de passar estes dias de férias em casa do irmão Zacharias; voltando
em Janeiro, se Deus permittir.
Todo trabalho aqui vae bem, graças a Deus, porém o que acho que vae melhor e
com mais animação, é a Escola Dominical e a Sociedade Juvenil. A Escola augmenta
cada domingo. Quando cheguei aqui a assistência era de 15 a 20 e agora temos quase
60, e há muita attenção e interesse.
A escola diária este anno não foi como desejávamos; tivemos uma pequena matricula
de 14; mas para o anno acho que teremos um bom numero. Encerrei as aulas no
dia 26 e reabrirei no dia 2 de fevereiro p. futuro.
Este anno não passei bem de saúde, mas espero para o anno estar prompta para
tudo. […]
O que sinto é não poder andar a pé muitas léguas. Toda vez que faço uma
viagem da distancia de uma légua, fico doente e as irmãs não querem ir sem mim. Por
mais que eu queira, não posso; por esse motivo só saímos uma vez por mês e o povo
pede para irmos sempre a suas casas.
Tenho gostado bastante do trabalho aqui, mas não posso fazer o que desejaria, porém
Deus proverá.
Sem mais, da irmã em Christo,
Marcolina Magalhães

 

“O que sinto é não poder andar a pé muitas léguas”, essa era a lamentação
da jovem missionária. Como fazer o trabalho missionário no sertão nordestino,
naquela época, sem caminhar? Mais uma vez, ela afirmou: Deus proverá.

E ele realmente proveu. As declarações da obra missionária de Marcolina
revelam quanto ela caminhou, quantas léguas percorreu, quantas localidades
que não conheciam o evangelho de Cristo alcançou, quantas igrejas organizou.
Só mesmo pela força do Espírito Santo de Deus.

Após algum tempo no campo missionário, Marcolina escreveu a dona
Elizabeth contando sobre o trabalho e quantos quilômetros caminhava. Ao
final da carta, declarou: “E os meus pés não têm doído nem um tiquinho!
Como o Senhor ouve as nossas mínimas súplicas”.

O padre de Porto Franco afirmou que dona Marcolina tinha “uma força
do diabo”, pois só assim para adentrar os sertões, vencendo distâncias, lama,
chuva e dificuldades de todo tipo.

Em 5 de setembro de 1971, portanto, quase quarenta anos depois daquela
carta, O Jornal Batista destacou em sua primeira página o trabalho de Marcolina
Magalhães e Beatriz Silva, com o seguinte título: “Correm e não se
cansam as duas grandes missionárias ao Sertão”.

Onde quer que o batista visitante no Vale do Tocantins anda, ouve:
“Foi D. Marcolina quem me evangelizou.” “D. Marcolina é minha
segunda mãe… cuidou de mim.” Agora, com a nova igreja batista
indo bem, em Colinas, D. Marcolina planeja visitar as novas cidades
mais além, onde não há quem testemunhe de Cristo. Depois
de quarenta anos de serviço no sertão, sente o desafio das cidades
onde ninguém prega o Evangelho de Salvação.

A vida de Marcolina comprovou: “Até os jovens se cansam e ficam exaustos,
e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam
as suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos,
andam e não se cansam” (Isaías 40.30,31).

p. 414-416

Conclusão

Este livro informou sobre acontecimentos impactantes e personagens marcantes da história do protestantismo no Brasil. Visualizaram-se crédulos e descrentes, sacerdotes e fiéis, mestres e discípulos, senhores e escravos. Ler sobre o mal da escravidão, em especial, choca o leitor atual, assim como fazia sangrar os corações humanitários da época. Essa opressão de seres humanos por outros, serve de reflexão para nossa fabilidade humana.

Que outras reflexões o leitor pode fazer com os relatos deste livro? Quais as lições da História? Qual mandamento essencial do Cristianismo deixou de ser cumprido e provocou tanta incompreensão e dificuldades?

O discípulo de Cristo deve ser conhecido pelo amor devotado ao seu próximo. Nesta narração, percebeu-se que, mesmo no nobre propósito de levar as boas novas da salvação, alguns cristãos não foram compassivos e deixaram que a cultura sobrepujasse o amor, quando não combateram a injustiça na sociedade escravista.

Alguns colonos protestantes, provenientes de regiões escravocratas, escolheram o Brasil para imigrarem porque aqui não seriam constrangidos a combater a escravidão e, dessa maneira, não precisariam se envolver na política. Eles não se abalaram com essa opressão social a qual estavam acostumados.

Outros, contudo, buscaram incutir compaixão nos senhores de escravos. Algumas igrejas evangélicas e pessoas, individualmente, chegaram a comprar escravos para os libertarem. Será que a motivação foi o fato de restituir a liberdade somente para cultuar a Deus, ou a liberdade em um sentido mais amplo e irrestrito?

O amor, muitas vezes, foi substituído pela intolerância, característica do ser humano e não uma marca do cristão. De um lado, os católicos discriminavam os protestantes chamando-os de “bíblias”, “bodes” e “hereges”. Do outro, os protestantes chamavam o catolicismo de “besta” e de “anti-Cristo”.

A fé, sem a qual é impossível agradar a Deus, estava ausente da religiosidade popular. O temor, a veneração cega, a superstição e o misticismo contribuíam para que sobrevivesse apenas uma mera credulidade. Cria-se porque se devia crer, praticava-se uma religião porque era a crença dos pais, sem entendimento e sem contestação.

Alguns homens, mais racionais, proibiam suas esposas de se confessarem, entendendo que um ser humano, falho como eles, não podia perdoar pecados. Outros achavam que as procissões assemelhavam-se a carnavais e enxergavam a ignorância nas superstições, mas não se posicionavam, mantendo-se neutros e deixando continuar esse triste estado espiritual.

A necessidade do “deus” perto fazia do fiel um idólatra que precisava possuir seu objeto de adoração, mantendo-o em sua casa, próximo de si, em uma prova do seu desconhecimento da verdade bíblica de que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas e que o verdadeiro adorador deve adorá-lo em espírito e em verdade.

O descontentamento com o santo, que não atendia aos pedidos, assemelha-se ao procedimento de muitos “evangélicos” que buscam a Deus somente quando precisam de um bom emprego ou de cura para suas enfermidades. Eles querem um “deus” com o qual possam barganhar à vontade, manipular e dar ordens.

Quando ao povo serão ensinadas somente doutrinas bíblicas: o poder transformador do evangelho, a importância do novo nascimento e mudança radical de vida? Quando será ensinado que Deus deve ser adorado pelo que é, não pelo que concede? Quando cessará a comparação de Deus com a vida? Se a vida é boa, Deus é bom; se ocorrem dissabores, Deus não está se importando com sua criatura e, portanto, não merece adoração.

Quando as pessoas olharão apenas para Cristo, o autor e consumador da fé, e ficarão encantados com seus ensinos e exemplo? Quando deixarão de olhar para líderes e outros cristãos que são falhos em seu Cristianismo? Quando, ao invés de procurarem os frutos dos outros, se preocuparão em produzir os seus próprios frutos?

Quando voltarão ao convívio de seus irmãos na fé, perdoando suas faltas, chorando e se alegrando com eles? Quando deixarão de ser evangélicos não praticantes? Quando o cristão terá Cristo não somente como seu Salvador, mas principalmente, como seu Senhor, a quem deve obediência? Quando será fiel e comprometido com a mensagem cristã e não se deixará modelar pela filosofia individualista contemporânea? São perguntas que não querem calar e necessitam de respostas.

Algumas características marcantes do Cristianismo, felizmente, podem ser observadas na implantação do protestantismo brasileiro, constituindo aspectos positivos que devem servir de lição para os dias atuais. Em primeiro lugar, destaca-se a unidade do corpo de Cristo, a beleza da cooperação entre as denominações, quando havia mais proximidade e comunhão e os pastores conheciam-se e ajudavam-se, revezando seus púlpitos.

Outro aspecto positivo, mesmo que por imposição da lei, era a simplicidade das casas de orações, quando era proibida a aparência exterior de templos. A singeleza das primeiras capelas encantava mais do que as grandes catedrais atuais.

Fato significante foi a denominação atribuída pelo Dr. Kalley à igreja que organizou: simplesmente Igreja Evangélica. Oxalá todas as igrejas protestantes fossem conhecidas somente como igrejas evangélicas ou casas de oração. Contudo, hoje em dia, existem mais igrejas com nomes diversos e estranhos do que membros comprometidos com as mesmas.

Com a leitura deste livro, pode-se contemplar uma verdadeira galeria de heroínas evangélicas, estrangeiras e brasileiras. Mulheres solteiras, dedicadas e abnegadas educadoras, e mulheres casadas, companheiras dos missionários pioneiros. Todas em um mesmo propósito, a evangelização do povo brasileiro.

Em outra parede da galeria, estavam as mulheres sertanejas ou que foram para o sertão: a doutora nordestina, a intrépida apologista pernambucana, a mártir entre os indígenas, a que caminhou mil léguas sem se cansar e aquela que permaneceu sessenta anos em seu campo missionário. Que sublime vocação! Quanto desprendimento!

Mais à frente, contemplam-se as evangélicas múltiples e talentosas: a professora líder feminina, as líderes femininas que representaram as mulheres evangélicas brasileiras, a pregadora e promotora de missões, a evangelista pesquisadora, a musicista historiadora e a historiadora avivada que contou sobre os céus.

É impressionante a pluralidade de dons e talentos das mulheres e as destacadas neste livro não o foram por uma só vocação ou uma só tarefa. O número foi inexpressivo diante do seu universo. Porém, essa pequena amostra revela o potencial do trabalho de todas. Provavelmente, mais da metade das citadas são quase desconhecidas, mas, são vidas dignas de reconhecimento e admiração. Vidas que inspiram e servem de exemplo na fidelidade à vocação cristã.

Em interessante retrospecto, podem ser observadas algumas semelhanças em suas vidas e mortes: Herodias Neves Cavalcanti, a missionária emérita, morreu em viagem de promoção missionária e foi enterrada no dia de missões mundiais. Cecília Siqueira, a dedicada mestre, sentiu-se mal na secretaria do colégio, onde passou grande parte de sua vida, morrendo naquele mesmo dia, 15 de outubro, dia do professor. Beatriz Silva faleceu ao final das comemorações de 60 anos da presença batista no estado de Tocantins, ela que também dedicara 60 anos ao trabalho missionário naquele lugar.

No decorrer da leitura, o querido leitor, deve ter percebido o esforço, a ousadia, mas ao mesmo tempo, a humildade dessas mulheres, que não se consideravam capazes de realizar a obra que enxergavam à sua frente. Porém, confiantes no Senhor que as capacitava, prosseguiram sem esmorecer, confiando plenamente que dele recebiam seus dons e talentos.

Portanto, se Deus é o capacitador, não cabe aos homens considerar incapacitado ou inapropriado quem quer que seja para um ministério, que para ser eficaz, não depende de sexo, raça, nível intelectual, ou qualquer outro fator humano, mas apenas dos dons do Espírito Santo de Deus.

As missionárias solteiras puderam dedicar-se integralmente ao seu ministério e realizaram muito. As casadas precisaram cuidar da casa e dos filhos e o tempo útil dedicado exclusivamente à vocação missionária foi menor, porém, essa vocação foi multiplicada com o trabalho dos filhos também missionários. Quantos frutos para o reino de Deus surgiram através das vidas comprometidas de seus descendentes.

Aquelas que tiveram a bênção de uma boa parceria conjugal, com certeza, realizaram ainda mais. As forças foram somadas, as dificuldades divididas e as orações atendidas. A esposa foi abençoada pelo esposo e ele por ela. Porém, quando homens cristãos não entendem a importância da liberdade para as mulheres desenvolverem seus dons e talentos, quando cerceam as vozes femininas e definem suas tarefas, o reino de Deus perde em uma dimensão que só a eternidade poderá aquilatar.

Os missionários estadunidenses permitiam a fala das mulheres apenas em ambientes privados e para pessoas de seu próprio sexo. Mulheres ensinavam somente às crianças ou a outras mulheres. A proibição do falar feminino em público lembra a mentalidade medieval quando era considerada herética a mulher que pregasse publicamente.
Essa prática pode ser comprovada pelas palavras da missionária Ana Bagby, quando declarou que invejava os homens, pois podiam alcançar muitas almas falando a grandes multidões. Também sua filha Helen Bagby Harrison, informou que no funeral de seu pai precisou falar, mas o fez constrangida, pois não era costume que as mulheres falassem em funerais,  nem em quaisquer outros espaços públicos, como citado no resumo biográfico de Carlota Kemper.

Graças à atuação do Espírito Santo de Deus, que não é limitada a padrões humanos, aquele culto fúnebre se transformou em culto evangelístico, quando a palavra de Helen tocou os corações das pessoas presentes e muitos aceitaram a Jesus como Salvador.

A mentalidade discriminadora do ministério da mulher não tem base bíblica, nem endosso do Mestre dos mestres, que valorizou, honrou, elogiou e desfrutou dos serviços de suas discípulas, reconhecendo sua fé e importância para o reino de Deus. O processo de redenção social da mulher, iniciado por Cristo, quando as tratou com dignidade e amor, deveria ter continuado.

É difícil, porém, reverter esse padrão que teve muita força nos primeiros anos do protestantismo no Brasil, e continua tendo nos dias atuais. Nem as palavras bíblicas de que “Deus não faz acepção de pessoas” e de que “Em Cristo não há judeu, grego, servo, livre, homem ou mulher” são capazes de mudar a opinião de alguns líderes evangélicos que preferem seguir uma tradição, uma cultura humana, do que amar e entender que é Deus quem capacita homens e mulheres.

A concessão que era feita à liderança feminina, na época estudada, acontecia somente na ausência do pastor. Como exemplo, a escritora Archiminia, bem atuante em sua igreja e na denominação, foi escolhida por algum tempo como diretora dos cultos da Igreja de Villa Nova, na ausência do pastor. As missionárias abriam pontos de pregação, iniciavam escolas dominicais, evangelizavam, pregavam e lideravam igrejas, na ausência do pastor. Será que o pastor não merece ouvir a mensagem de uma pessoa consagrada e dedicada ao reino de Deus?

Mulheres capacitadas por Deus e vocacionadas para o ministério cristão foram as personagens principais deste livro. Atualmente, as mulheres constituem a maioria da membresia nas igrejas evangélicas em todo o país e continuam dedicadas e envolvidas em seus ministérios, nos quais desenvolvem seus dons e talentos.

É fundamental para a igreja cristã contar com o serviço de mulheres e homens comprometidos com Cristo. Que as vozes femininas prossigam ecoando, transmitindo palavras abençoadoras, em livros inspirativos, em mensagens edificantes ou em serviço compassivo. Enfim, que possam exercer livremente os dons concedidos por Deus, o galardoador e Senhor de suas vidas!

Comentários dos leitores

Obra muito bem escrita. Já havia lido outro trabalho de Rute Salviano: “Uma voz feminina calada pela Inquisição”, obras que demonstram o seu profundo conhecimento histórico em religião e notadamente na Idade Média. Recomendo veementemente as obras dessa espetacular autora a todos os aficcionados em História. Pedro A. Palermo (12/12/2015)

 

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