Meu paizinho querido

Meu pai Sebastião Pessoa Salviano foi um grande homem de Deus. Ele nasceu no dia 25/05/1919 e, somente no dia 26 de fevereiro de 2019, visitando minha tia Virginia, que fazia 81 anos, soube um pouco sobre seu nascimento. Ela me contou que sua mãe, minha avó Maria da Conceição Cavalcanti (Mãe Dóca) havia feito uma promessa a São Sebastião que, se ele lhe valesse no parto,  colocaria o nome da criança (sendo menino) de Sebastião. Pois bem, chegou a hora, mas meu pai não nascia, ele estava atravessado e minha avó sofreu por 3 dias com dores terríveis. Quase desfalecendo, lembraram-se de um velhinho cego que fazia parto de animais e o chamaram. Chegando lá, ele pediu para que colocassem suas mãos na barriga da minha avó. Identificando os pés e a cabeça do bebê, fez as manobras corretas e logo em seguida meu pai nasceu.

Minha tia Virginia (Lora) falou: – Filha, seu pai só não morreu no parto, porque Deus tinha um plano para a vida dele. Nisto eu também creio!

Minha avó colocou o nome de Sebastião no menino, mas depois falou: – Não sei porque coloquei esse nome, São Sebastião nem me valeu.

Em meu livro “Vozes femininas no início do protestantismo brasileiro” coloquei uma quadrinha da época feita ao santo, pedindo-lhe que lhe livrasse dos bodes (os protestantes) e, na nota de rodapé, escrevi que meu pai recebeu esse nome em homenagem ao santo, mas que esse santo não teve o poder de livrá-lo dos bodes, pois ele também se tornou um.digitalizar0003

Meu pai se converteu aos 16 anos, ele havia sido um menino interessado pela igreja, acompanhava suas tias beatas e ajudava até mesmo nas celebrações da missa. Sempre gostou de ler, de adquirir conhecimentos, sua cultura geral tornou-se vastíssima. E, ao ter contato com evangélicos e, ao ler o Novo Testamento, começou a questionar as práticas católicas. Quando se decidiu pelo evangelho de Cristo, sua família ficou brava com ele.

Meu avô, Salviano Marques de Melo, rasgava todos os livros evangélicos que ele conseguia emprestado e, por fim o expulsou de casa. Porém, ao ler a Bíblia meu avô, “Pai Vião” foi o primeiro a se converter e assim o fez toda família.

Meu paizinho permaneceu firme no evangelho, amava a igreja, amava estudar a Bíblia e seu assunto preferido era falar de Cristo. Recebeu de Deus um dom especial de evangelismo, e eu diria, complementando o apóstolo Paulo, que tinha o dom de pai e esposo: “Ele próprio deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e doutores” Efésios 4.11. Acrescento eu: e outros para pais e esposos.

Pai orando

digitalizar0026

Eu e meu pai em 1972

digitalizar0138

Meu pai com meu filho Meison em 1981

Pai orando (2)

 

Que saudades, meu paizinho, de suas orações, de seus cânticos (ele cantava o dia inteiro), de sua sabedoria e de suas conversas, nas quais o assunto principal era a Palavra de Deus. Uma das lembranças mais gratificantes que tenho é a de passar em frente ao seu quarto e vê-lo ajoelhado em oração. Ele lia a Bíblia inteira todos os anos, desde a sua conversão, deve ter lido umas 60 vezes. Sabia de cor muitos textos bíblicos e seus endereços.

Sua prioridade era Deus e a família. Ajudava minha mãe, era ele quem sempre enxugava a louça e era responsável pelas compras da casa. Ia buscar os filhos no ponto de ônibus, tarde da noite, mesmo com tosse e não muito bem de saúde, mas só descansava tranquilo quando todos estavam em casa. Quantas vezes foi resgatar meu irmão Ruben de madrugada, onde estivesse, e o trazia para casa. Amava receber visitas, quantas risadas gostosas, quantas conversas, quanta hospitalidade.

Nossa casa era uma verdadeira hospedaria. Parentes e amigos permaneciam meses e até anos conosco, apesar da casa pequena e de quatro filhos. Hoje me pego pensando: – Como faziam? Aonde esse povo dormia?

Outra lembrança gostosa é de sua alegria quando, depois de casados, seus filhos o visitavam e ele dizia, ao atender à porta, para minha mãe: – É prata da casa, minha velha!!! Quando minha filha mais velha era bem novinha, eu morei em sua casa e ele ia passear com ela. Sempre manteve a prática de visitar suas irmãs, minhas amadas tia Júlia, tia Virgínia (Loura) e tia Noemi e, nessa época, levava minha filha no carrinho.

Lembrança boa era também passar em frente à porta do quarto da minha filha, quando ele pernoitava em casa, e ouvi-los conversando sobre a Bíblia. E quando ele nos visitava feliz, sempre carregando livros: sua verdadeira paixão. Lembro quando chegou com a História da Reforma de D’Aubigné (se ele soubesse o quanto me foi útil, mas acho que sabia pois antes de falecer a doou para mim). – Veja minha filha que tesouro encontrei! Como declara Provérbios 2.3-5: “Se clamares por discernimento e levantares tua voz por entendimento; se o buscares como quem procura tesouros escondidos; então entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus”. Assim fazia o meu pai!

Que bom, meu paizinho, que está nos céus em um resplendor maravilhoso, como ansiava tanto e dizia, ao se decepcionar com tantas coisas: – Rogo que Deus me leve logo, antes que perca minha fé! Um dia antes de seu AVC (26/02/1994) eu o visitei e ele não estava bem. Havia perdido mais um filho, o Mizael, em 24/12/1992. O Ruben havia morrido em 12/06/1973. Quando lhe falei que Deus tinha um plano para cada pessoa, ele declarou com firmeza: – Já cumpri o meu, minha filha!!! Estava completamente pronto para o encontro com seu Senhor e Salvador, mas, permaneceu acamado ainda por 1 ano e 7 meses, falecendo em 27/09/1995. Logo mais o verei na Glória meu amado pai!

  1. digitalizar0143

    Fazendo o que mais gostava: cantando em um culto de gratidão a Deus por mais um ano de vida de suas netinhas (1979). Eu estou à esquerda, cantando também, ao lado do esposo Ubiratan e da filhinha Meirélen.

    digitalizar0139

    Com meu caçula Marlon no colo, em 1990.

digitalizar0141

Beijando a neta Meirélen no natal de 1988.

4. Seu bilhete, que pena que eu não estava em casa. Porém, se estivesse não teria essa recordação.digitalizar0150

Acréscimos

Meu pai pregando

Meu pai pregando

Após ter publicado este post, minha irmã Raquel comentou no Facebook: Mana relendo cada oração de seu texto, lembrando de cada detalhe, confirmando cada lembrança de nosso querido paizinho, que realmente possuía dons maravilhosos, especialmente ser esposo e pai, evangelista, hospitaleiro, mestre por excelência além de outros… que saudades imensas😢
Só corrijo a informação do ano de falecimento do nosso mano querido Ruben, 1973 … com 21 anos … muito cedo, lembro de pai contando anos, meses, dias, horas e minutos da ausência que sentia dos filhos que Deus chamou tão cedo … ❤️❤️

Realmente, meu irmão Ruben faleceu em 1973 (já corrigi) e meu pai contava todos os dias de sua morte. No momento em que li. lembrei que eu encontrara uma anotação dele em um de seus livros. Ei-la abaixo, quanta dor para um coração de pai e ainda bem que não sabemos o futuro, pois 6 meses depois dessa anotação ele perderia também o filho caçula, o Misael:

digitalizar0023

Que compaixão pelo meu paizinho, um ano depois ainda contando os dias das mortes, agora, de dois filhos.

bilhete Pai

 

Como homenagem a ele, dediquei-lhe meu 1º livro e essa dedicatória está no post sobre “Uma voz feminina na Reforma”, mas quero repeti-lo aqui pois sintetiza meu sentimento por ele e meu orgulho dele.

digitalizar0028

Com meu paizinho em meu casamento: 30/11/1974. Ele está triste em todas as fotos, em uma delas está com um lenço na mão. Havia perdido seu filho Ruben há apenas um ano e meio e nem conseguiu me levar ao altar.

Com meu paizinho em meu casamento: 30/11/1974. Ele está triste em todas as fotos, em uma delas está com um lenço na mão. Havia perdido seu filho Ruben há apenas um ano e meio e nem conseguiu me levar ao altar.

Por que será que rabisco meus livros? A genética explica:

Páginas do 1º volume da coleção História da Reforma Protestante do Século XVI de J. H. Merle D’Aubigné, com anotações do meu pai e minhas, pois usei os livros que ele comprou, com tanta alegria, em minhas aulas e na escrita do primeiro livro.

digitalizar0136

digitalizar0135digitalizar0137

 

5 Comments

Add a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *