Formaturas ou testes de Fé?

Sempre quis estudar muito: fazer faculdade, pós-graduação, mestrado, doutorado… estudar, estudar, sem parar. Mas, a vida tomou outro rumo e nem uma faculdade cursei quando solteira. Depois de casada, fui atrás do prejuízo e, é claro, foi mais difícil, porém gratificante.

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1º Curso – licenciatura em Estudos Sociais

Ingressei nesse curso quando já tinha a minha primogênita Meirélen. Lembro bem da alegria de voltar a ser estudante, da expectativa, do prazer em absorver conhecimentos.

Chegaram, então, os testes de fé… “Cada vez que minha fé é provada, Tu me dás a chance de crescer um pouco mais”... O professor de Filosofia era um padre e afirmava que as histórias bíblicas eram lendas, que nada ocorrera do modo como foi descrito na Bíblia. Cheguei a levar para ele um livro sobre Ciência e Fé, que ele se recusou até mesmo a segurar na mão.

Bem, minha fé não se abalou nem um pouquinho. Meu Deus, o Criador do Universo, inspirou homens para escreverem Sua história de criação, de cuidado, de sustento e de redenção do ser humano. Nisso cria com todas as minhas forças e nisso continuo crendo.

Uma experiência maravilhosa ocorreu quando fizemos um trabalho para a matéria de História Antiga. Éramos um grupo de 10 alunos, mas acabei fazendo o trabalho sozinha, afinal eu havia escolhido o tema: Literatura hebraica. Assim que o professor falou sobre as civilizações que pesquisaríamos eu escolhi os hebreus. Foi difícil fazer o trabalho, pois à época minha filha tinha apenas um ano, precisei até pedir que meu pai a levasse para sua casa por uns dias. Chegou o dia da apresentação e combinei com uma colega que ela leria as introduções sobre o contexto e eu declamaria os textos correspondentes. Era um sábado, o local estava repleto e os estudantes incomodados por precisarem comparecer. O barulho era imenso, ninguém conseguia expor seu trabalho e ninguém conseguir ouvir as exposições.

Chegou minha vez, orei pedindo a Deus serenidade e que eu conseguisse falar alguma coisa, que o barulho diminuísse. Minha colega falou sobre os hebreus e seus salmos e quando eu comecei a declamar o salmo 23: – O Senhor é meu pastor, nada me faltará, fez-se silêncio absoluto.

Ninguém falava e conseguímos ir até ao final de nossa exposição em paz e quietude. Que bênção! A palavra de Deus penetra e se sobrepuja a todas as vozes!!! Nunca vou me esquecer desse fato!

Meu discurso de Oradora da Turma foi datilografado na máquina de escrever portátil de meu irmão Mizael, com a qual escrevi minhas primeiras apostilas para meus alunos do 1º; 2º graus e do Supletivo. Nessa fala declarei minha fé: “Que inspirados nos exemplos dos nossos abnegados mestres e guiados pelo mestre dos Mestres, nosso Salvador Jesus Cristo, possamos nunca perder a fé, a esperança e o amor”.


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2º curso: Bacharel em Teologia, com especialização em Educação Cristã (2000).

Dez anos depois de minha chegada à Campinas, em 1991, comecei a lecionar na Faculdade Teológica Batista de Campinas e fiquei incomodada por não ter o bacharel em Teologia, apesar de poder lecionar com minha licenciatura em Estudos Sociais, matérias relacionadas à História, Geografia, Metodologia da Pesquisa, Religiões Mundiais, etc. A primeira matéria que lecionei foi História dos Batistas. Em 1995, fiz como disciplina avulsa, a matéria de Homilética, por gostar muito da pregação e, em 1998, comecei o curso regular. Eliminei muitas matérias que já havia cursado, como: as introduções à Filosofia, à Psicologia, o Português, e aquelas que eu já lecionara. Portanto, em apenas 3 anos consegui concluir o curso. Como era uma faculdade teológica batista, o teste para minha fé não foi muito. Mas, tinha um professor de Filosofia (sempre Filosofia) que gostava de me perturbar dizendo que era melhor ter dúvida do que ter fé porque a dúvida levava a fé. Eu retrucava: – Prefiro ter fé a ter dúvidas!!! O registro é do fato inédito naquela faculdade: a professora sentada com seus alunos aprendendo, o que foi muito bom, pois pude conhecê-los melhor, e a formatura foi uma verdadeira festa.digitalizar0077

Os registros acadêmicos da aluna e da professora

Os registros acadêmicos da aluna e da professora

 

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Minha homenagem aos meus dez colegas de turma: 1ª fila – Roseli, Jackson, Angela e Leandro Mozart; 2ª fila: Jorge Luís, Edmar, Luís Eduardo e Gilmar e na última fileira Carlos Otonis e Rosiane.

Na foto da formatura (2000) sou a 1ª à esquerda ao lado de nossa patronesse, minha querida colega Profa. Roseli Eitutis. O paraninfo Prof. João Batista é o 1º à direita, a coordenadora acadêmica, querida colega, Gecy Mary é a 1ª à esquerda na 2ª fileira e, ao centro, encontra-se o nosso diretor: Pr. Natanael Gabriel da Silva. Que alegria neste dia!!! Sempre estava de toga ao lado dos professores nas formaturas, mas dessa vez minha satisfação foi ainda maior, pois foram tantos trabalhos, tantas aulas, tantas pesquisas, junto com o preparo de aulas e o cuidado da casa e de três filhos. Verdadeira vitória mesmo!!!

Na foto da formatura (2000) sou a 1ª à esquerda ao lado de nossa patronesse, minha querida colega Profa. Roseli Eitutis. O paraninfo Prof. João Carlos Martins é o 1º à direita, a coordenadora acadêmica, querida colega, Gecy Mary Pereira é a 1ª à esquerda na 2ª fileira e, ao centro, encontra-se o nosso diretor: Pr. Natanael Gabriel da Silva. Que alegria neste dia!!! Sempre estava de toga ao lado dos professores nas formaturas, mas dessa vez minha satisfação foi ainda maior, pois foram tantos trabalhos, tantas aulas, tantas pesquisas, junto com o preparo de aulas e o cuidado da casa e de três filhos. Verdadeira vitória mesmo!!!

Minha família, da esquerda para direita, o cunhado José Carlos, a irmã Raquel, a mãe Maria José, a filha Meirélen, o genro Marcello, à frente o filho Marlon, eu e o esposo Ubiratan.

Minha família, da esquerda para direita, o cunhado José Carlos, a irmã Raquel, a mãe Maria José, a filha Meirélen, o genro Marcello, à frente o filho Marlon, eu e o esposo Ubiratan.

 

3º Curso: pós-graduação em História do Cristianismo

 

Na pós-graduação na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) os testes foram maiores e o registro fotográfico foi quase nenhum. Não houve colação de grau, ou de pós-grau??? Mas, sem dúvida, eu orava em quase todas as aulas, parafraseando o apóstolo Paulo: Permita Senhor que eu termine esse curso, consiga entregar todos os trabalhos, mas, principalmente, que eu guarde minha fé!!!

Algo, porém, muito gratificante foi ter aulas com o Prof. Martin Dreher, luterano do sul do país, escritor de livros sobre a História do Cristianismo. Foi emocionante ouvi-lo cantar com uma linda voz de baixo, Castelo Forte, quando deu aula sobre a Reforma. Que capacidade, quanto conhecimento, não precisava de apontamentos (como eu) e relatava os fatos como se os tivesse vivido.

A caminhada da sala de aula até o local dos dormitórios também é digna de nota. Por vezes tinha chovido e a água da chuva caindo nos pés de eucalipto, que circundavam todo o caminho, deixavam um cheiro no ar que purificava nossos pulmões. Uma experiência singular foi contemplar nosso professor Martin Dreher, que se hospedava em um dormitório em frente ao nosso, sentado em uma cadeira ao ar-livre, lendo meu rascunho de dissertação do mestrado. E que alegria senti quando ele comentou sobre o que eu escrevera com elogios.

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Fotos dos ambientes interno e externo: um lugar muito aprazível

Fotos dos ambientes interno e externo: um lugar muito aprazível

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Bilhetinho e foto de uma querida colega e companheira de dormitório: Elizabeth Preihs,


Um verdadeiro teste de Fé

Esse curso de pós-graduação reuniu alunos de muitos lugares do Brasil e de muitas igrejas: metodistas, nazarenos, presbiterianos, batistas, católicos, espíritas etc; como também graus de escolaridades distintos: graduandos, bacharéis, licenciados, mestres, mestrandos e doutorandos. Também tínhamos um grupo distinto tanto de alunos como de professores, como padres, ex-padres, professores, mestres e doutores.

Em uma das primeiras aulas, nos foi pedido que, para nos conhecermos melhor, escolhêssemos um objeto à disposição na mesa da professora, e nos apresentássemos dizendo porque o havíamos escolhido. A maioria se apressou e eu, mais lenta, acabei pegando um dos últimos objetos: era um DVD de um filme chamado “A Morte”, achei que serviria para me apresentar e, como não consigo segurar, para evangelizar e já me posicionar como discípula de Cristo. Na minha vez, falei que peguei aquele DVD porque não tinha qualquer medo da morte, ela não me assustava devido à minha grande fé em Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador. E isso serviu para que os alunos e a professora soubessem que eu era a “batista quadrada”. Quando, mais à frente apresentei um projeto de pesquisa, a professora questionou minha imparcialidade para o realizar, devido à minha crença radical. Nunca me senti tão incomodada, ou me sentindo peixe fora da água por ser batista.

A experiência triste, pois me fez chorar em aula, mas dessas que precisamos passar para entender o contexto à nossa volta e ter um choque de realidade, ocorreu em uma das aulas. Discutia-se e se concordava com a pós-modernidade, com a importância de se desconstruir parâmetros e paradigmas. Eu ficava mais incomodada a cada fala e tentava colocar minha opinião, levantando minha mão para participar do debate. Mas, parecia que eu era invisível. Até que um meu aluno da faculdade batista, que também fazia o curso, interviu: – A professora está querendo falar há tempo e não lhe dão oportunidade! Ali eu não era professora, pelo contrário!!! Mas, pelo menos pude falar e disse: – Vocês estão desconstruindo princípios bíblicos importantes, doutrinas cristãs, porém não estão colocando nada no lugar. O salmista perguntou: “Destruídos os fundamentos, o que pode fazer o justo?” Isso é muito perigoso! Não houve qualquer comentário, mas um pouco depois, um dos alunos, dos mais prestigiados por ser doutorando e com vocação para o monastério, falou: – Isso que a Rute disse é verdade, nós estamos desconstruindo, mas não estamos colocando nada no lugar de nossa desconstrução! Graças a Deus por aquela percepção! Bem, acabei o curso e guardei firme a minha fé, porque ela está firmada em Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador!!!

4º Curso – Mestrado em Teologia, com concentração em História Eclesiástica

No final de 2000, estava esgotada mentalmente. Havia concluído o bacharel em Teologia, mas não queria perder o ritmo, pois já havia parado por muitos anos e sabia como era difícil a retomada. Portanto, fui prestar o vestibular para o mestrado na Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Nunca fiz provas tão difíceis! O grego era uma prova que reprovava a quase todos os candidatos, mas consegui ser aprovada. E agradeço a Deus não ter prova de hebraico. Afinal, minha especialização foi em educação cristã! Uma certeza eu tinha: o tema de minha dissertação, que seria sobre a mulher na Reforma Protestante. Tentaram me dissuadir: escreva sobre a atualidade, escreva isso, aquilo!!! Mas fiquei firme, sentia que faltava informações sobre o assunto e queria contribuir um pouco. E, assim o fiz, o que foi muito bom para mim, pois aquela dissertação se tornou meu primeiro livro. Lembro com saudades das orientações e vibrações da querida Dra. Lois Douglas, dizia até que podia ser uma tese de doutorado, pois havia pesquisas em inglês, espanhol e francês. O meu orientador principal, Lourenço Stelia Rega, diretor da faculdade, foi de grande valia ao me guiar na metodologia, ao me fazer refletir sobre meu referencial teórico, ao me indicar referências relevantes. Sem ele, com certeza, não teria apresentado um bom trabalho. Pena que as fotos estão um tanto deterioradas.

Com meu orientador Dr. Lourenço Stelio Rega

Com meu orientador Dr. Lourenço Stelio Rega

Com minha orientadora Dra. Lois Douglas

Com minha orientadora Dra. Lois Douglas

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Com a família, da esquerda para à direita: o esposo Ubiratan, o namorado da sobrinha Isis, o Arthur (hoje esposo), a sobrinha Isis, a sobrinha Carla, a mãe Maria José, eu e meu cunhado José Carlos Roverso.

Ladeada pelas minhas queridas irmã e mãe

Ladeada pelas minhas queridas irmã Raquel Pereira Salviano Roverso e pela minha mãe Maria José Salviano.

 

 

 

 

 

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